domingo, 14 de março de 2010

A WEB e o espaço geográfico: analogias

Jaime Oliva

Como forma de investigação sobre o funcionamento e o significado da WEB e da rede Internet algumas analogias com o espaço geográfico podem ser feitas. Do mesmo modo, compreender como essa tecnologia muda nossas vidas e passa a compor, de certo modo, o espaço geográfico é uma reflexão que não pode deixar de ser feita.

Se tivermos em conta que a sociedade se faz pelas relações sociais e que para estas é necessário um espaço geográfico que as propicie – meios de transporte e cidades, por exemplo, a web e a internet também constituem um espaço – um ciberespaço, como é chamado esse meio de comunicação e informação.
Tanto o espaço geográfico quanto o ciberespaço são contextos relacionais, e eles próprios se relacionam e se interpenetram. Aqui vamos expor alguns aspectos dessas relações entre esses dois espaços e apontar o que cada um possibilita e logicamente suas diferenças.
Por exemplo: no ciberespaço é possível entrar-se num site francês sem passaporte, no espaço geográfico isso para a maioria dos habitantes do mundo não é possível. O ciberespaço tem um conteúdo mais desnacionalizado do que os territórios do espaço geográfico. Vamos comentar alguns aspectos dessa constituição.
O Vale do Silício é um pólo tecnológico. Nele se associam universidade e empresas com seus pesquisadores. Numa primeira fase de desenvolvimento da WEB e da Internet a idéias que surgiram e foram comercializadas eram na verdade idéias organizadoras do ciberespaço.
O Yahoo e outros sites de busca (de primeira geração) nada mais são do que formas de circular com algum direcionamento no ciberespaço. O espaço geográfico possui muitos correspondentes para isso. O ciberespaço está sobre um suporte eletrônico assim o espaço geográfico tem como base o substrato natural.
Sites e portais, buscadores, linguagens, protocolos, etc. representam um conjunto de elementos que estruturam o ciberespaço sobre seu suporte eletrônico que é constituído de sistemas energéticos e telefônicos. Atualmente as novas idéias que se tem sobre o ciberespaço referem-se não tanto mais a como constituí-lo mas sim como aproveitá-lo e mantê-lo.

O ciberespaço pode dar visibilidade a empreendimentos pequenos – é uma outra plataforma de onde se empreende novas relações entre os seres humanos e de extraordinária eficiência, mudando nossas relações com a distância. Nele se atua em várias escalas – desde o plano local, quanto mundial. Nele coloca-se em contato pessoas diretamente (uma presença de corpos ausentes).

As relações humanas não podem ocorrer inteiramente no ciberespaço e isso é óbvio. Não há possibilidade de contato corporal e transporte físico o que só é possível no espaço geográfico. No ciberespaço, um espaço tecnológico por excelência, o ser humano pode entrar em contato e descobrir muitas informações que ele nem sabia que existia e que nem estava procurando (serendipidades). Nesse sentido ele é parecido com o espaço de uma grande cidade.
Todo novo contexto relacional é potencialmente um espaço para novas atividades econômicas. No ciberespaço está se desenvolvendo cada vez mais o seu teor econômico: ele pode ser explorado como meio de vendas – sites para transações bancárias, para vendas de produtos diversos, etc. e pode também ser explorado para vender informações propriamente, muitas produzidas nos próprios sites. E todos sabem a importância da informação em nossa sociedade.
Mas como se compra a informação? Propaganda é o mecanismo, assim como foi durante muito tempo na televisão. Tal como nas cidades os lugares que acumulam muita gente servem para divulgar coisas. Esse espaço, logo, pode ser comercializado.
Houve (e há) várias iniciativas de incrementar as atividades econômicas de uma cidade criando sites que visam ampliar as interações e socializar informações. Por exemplo, é o caso de Sheffield, na Grã-Bretanha. Na verdade, profissionais estão sua cidade na WEB. Fazer de um site sobre essa cidade um espaço lucrativo. Eles querem criar a marca Sheffield – todos sabem a importância de se construir uma imagem e o ciberespaço é ele próprio imagem.
A cidade que ali vai estar é a cidade construída pelos profissionais e por todos que interagirem (pode-se atualizar no site e dar vida ao quê estava decadente como artesões e ramos industriais da época da revolução industrial).
O que vai se escolher como atração, o que se vai promover, o jeito que se vai divulgar poderá ser positivo para a cidade: na verdade no momento em que esses espaços se sobrepõem e se interpenetram está se alargando o contexto relacional da cidade, além do espaço da cidade propriamente, da Inglaterra, enfim, com o mundo todo.
Influências sobre as regiões e sobre o espaço geográfico: tanto Sheffield vai para o mundo como recebe o mundo – dependendo do grau e da qualidade dessas ocorrências a região pode mudar significativamente. São influências vindas por redes – são verticais e não horizontais (essa última vem das proximidades).
Por fim o ciberespaço não concorre com o espaço de uma cidade, por exemplo. Ele não pode substituir o contexto relacional de uma cidade, na medida em que ele tem características próprias. No entanto, no momento em que as relações sociais se empobrecem nas cidades ele pode vir ocupar um espaço de relações que deveria ocorrer nas cidades. Nesse caso teremos deformações. Na verdade o ciberespaço pode acrescentar à cidade e não substituí-la.

Um comentário:

Hermerson Alvarenga disse...

Levei essa discussão para a sala, os resultados do debate foram incríveis, muito boa a matéria!

Como sempre fantástico! Isso sim é Geografia...