sábado, 13 de março de 2010

Geografia e epidemias

Jaime Oliva

Algumas das grandes epidemias que vitimaram grandes contingentes de seres humanos têm em seus nomes uma dimensão geográfica: gripe espanhola, gripe asiática, por exemplo. Isso não é mera curiosidade e tem, na verdade, muitas implicações.

É possível mostrar mais detalhadamente essa relação entre a expansão de doenças e o espaço geográfico: os seres humanos convivem com microorganismos, mas a cada novo território que ele usa e transforma mais microorganismos são introduzidos nessas relações.
Para muitos desses microorganismos e suas mutações o corpo humano já adquiriu defesa, contudo quem ainda não entrou em contato com alguns desses microorganismos não possui essa defesa.
Isso explica porque muitos microorganismos que os brancos colonizadores trouxeram para a América e que para estes eram inofensivos foram tão letais para as populações indígenas.
O que não quer dizer que não existam microorganismos para os quais o corpo humano não tenha defesa. Para alguns não há tempo e por isso desenvolveram-se fórmulas de criar essa defesa artificialmente. Entre uma dessas defesas está a geográfica.

O que são as defesas geográficas contra a ação nefasta dos microorganismos: para melhor entendimento dois conceitos são chaves, são eles: endemia e epidemia. Endemia refere-se à doenças provenientes de microorganismos que estão circunscritas a determinadas porções do território.

A febre amarela é um exemplo: ela está presente apenas em algumas regiões. Só são contaminados aqueles que vão para aquela área, porque os agentes transmissores estão ali situados e dificilmente conseguem migrar. Esse é o caso também da malária (ou paludismo, maleita).

Essa terrível doença ataca muitas pessoas no planeta mas ela é endêmica a algumas regiões: no Brasil sua mais importante manifestação é no norte do país onde há muitas regiões florestadas e abundância de cursos d’água, já na África, praticamente o continente todo possui zonas de malárias. São tantos os locais de endemia da doença, que ela transita para a situação de epidemia.
O que é epidemia: é quando doenças transmitidas por microorganismos extrapolam territórios circunscritos e começam a contaminar pessoas em vários lugares. Isso quer dizer que o agente transmissor migrou da área original de contaminação de modo descontrolado. Em geral isso acontece quando o agente transmissor é o próprio homem.
Esse é o exemplo das gripe espanhola que chegou ao Brasil e de muitas outras epidemias, como por exemplo a AIDS. Quer dizer a epidemia é a proliferação de doenças que deixam de ter como referência o território geográfico estático e passa a ter relação com os fluxos, os movimentos migratórios, as redes geográficas.

Visto essas duas diferentes formas espaciais (endemia e epidemia) de manifestação de doenças geradas por microorganismos a medicina em sua ação preventiva busca atuar no espaço (além de atuar no campo propriamente médico) para conter as doenças.

Isso que chamamos de defesa geográfica contra as endemias e as epidemias: onde a doença é endêmica busca-se sanear o ambiente (rural ou urbano), tentando exterminar-se os agentes portadores e transmissores dos microorganismos.

Quando esses agentes podem migrar e gerar uma epidemia, busca-se o controle das fronteiras, por exemplo: é esse o sentido de barreiras em estradas, por exemplo, impedindo que se transportem seres vivos, alimentos de uma região para outra.

São muitas as ações nessa direção e é por isso que pode ser dito que os médicos em suas ações contra os microorganismos acabam também sendo agentes organizadores do espaço geográfico.

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