domingo, 28 de março de 2010

O Grande Rio

Jaime Oliva
Há um belíssimo documentário (uma animação) que faz uma espécie de homenagem a um grande rio. Ao rio São Lourenço no Canadá. Faz assim uma homenagem à natureza. É importante salientar que o rio é identificado como uma fonte de vida não só para as diversas formas de vida natural, mas destacadamente para o homem.
Assim o rio é tratado como recurso natural. Isso merece ser ressaltado: quando identificamos e estabelecemos que partes da natureza terão a condição de recurso natural já se trata de uma humanização da natureza, pois não é da natureza do rio ser recurso natural para o ser humano, mas é da "natureza" do ser humano escolher elementos naturais para ser recurso natural.
Logo o componente natural do espaço geográfico já é visto pelo ser humano com um sentido humano (isso por qualquer sociedade). E por que humanização da natureza? Porque a chamada relação homem-natureza quase nunca é uma relação de interação e dificilmente pode ser! Não é uma relação de iguais!
Da natureza e do entendimento de seu funcionamento o homem extrai matéria e conhecimento para a construção das sociedades que no mundo são os sistemas que funcionam com uma lógica própria cada vez mais afastada da lógica natural.
Quer dizer: quanto mais usa, transforma e compreende a natureza mais o ser humano afasta seu modo de vida de formas de vida mais próximas à natureza, que outrora grupos humanos praticavam.
Ao contrário, a “natureza natural” em sua “relação” (que nem voluntária é) com o ser humano é muito alterada segundo desígnios humanos (vide o caso do rio).
Vejam que o documentário nos mostra que embora o rio tenha alimentado às civilizações humanas que ali vão se instalar, seu destino está determinado pelo que aqueles agrupamentos humanos farão (“o grande rio não tem defesas contra a espécie humana”).
Assim como o destino daquelas sociedades será produto do que elas irão decidir. Há um sujeito nessa história e há um objeto. Uma relação sujeito objeto não é de iguais e em geral não é de interação. Será então que essa posição de domínio humano nessa relação venha necessariamente a resultar em degradação e destruição de formações naturais?
Será que essa condição inevitavelmente cega os homens? Ou, em mesmo assim sendo, há possibilidade de um outro olhar possível, mais generoso e inteligente em relação à natureza? (“A energia secreta das águas convidaria os homens a renascer junto com o rio”).

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