sábado, 27 de março de 2010

A indústria de suínos: o fim do rural

Jaime Oliva

Para analisar os rumos que vem tomando o sistema produtivo agropecuário nas sociedades modernas, sugerimos 2 procedimentos: 1. caracterizar conceitual e criticamente o tema em exame; 2. Problematizar a crítica. Vamos inicialmente à caracterização.
O sistema produtivo agropecuário em exame é aquele dominante nas sociedades modernas e seu funcionamento é o de uma indústria moderna urbana. Não é despropósito que ao invés de se falar em criação de suínos mencionemos a indústria de suínos.
Isso quer dizer que: está organizado empresarialmente com grandes capitais; tem como um dos seus principais insumos o uso importante de tecnologias avançadas; é uma produção em grande escala; funciona em rede geográfica (quer dizer é uma produção voltada ao mercado mundial) etc.
Esse sistema contrasta significativamente com tradicionais formas camponesas (Burkina Faso, Chiapas no sul do México, muitas localidades asiáticas e do Brasil, etc.) mais modestas, associadas ao local, quase que auto-subsistência, com baixo relacionamento com o mercado, etc.
Embora nos dois casos estejamos diante da mesma atividade econômica (a agropecuária) elas são praticadas de modo radicalmente distinto: 1. o sistema agropecuário moderno de Tawain, Canadá, Quebec França é urbano; 2. o sistema agropecuário tradicional de Burkina Faso e outras regiões da África, umas poucas regiões da América, Chiapas no México, Índia etc., é o rural verdadeiro.
Para justificar essa afirmativa, observe como se caracteriza essas dimensões do espaço geográfico:
Espaço rural (cujo conteúdo é a ruralidade)
1. quase a totalidade da população se dedica as atividades agropecuárias – vive na área.
2. a natureza é a força produtiva mais importante – peso dos seus mecanismos sua temporalidade etc. é grande. (Quando no documentário se fala em indústria de suínos está se dizendo que a natureza pesa menos).
3. baixas densidades demográficas (se comparadas com as cidades), dispersão no espaço geográfico.
4. homogeneidade étnica relativa.
5. mobilidade social – sem alterações significativas – a condição camponesa tende a se reproduzir, passando e pai para filho.
6. interações sociais – o número de interações sociais é muito baixo – se comparado à vida urbana – e a área geográfica de abrangência de seus contatos é restrita.
Mudanças na ruralidade a caminho do mundo urbano.
1. é provável que boa parte das pessoas envolvidas na produção de porcos em Tawain (esse é o exemplo que vamos dar) more nas cidades. Os gerentes das atividades têm formação superior, formados nas cidades com intimidade nas relações de mercado, com as tecnologias modernas etc.
2. o sistema produtivo é afastado da natureza, os porcos são selecionados, suas matrizes forjadas em laboratórios, assim como a alimentação é concebida em função da velocidade de crescimento etc.
3. os empregados provavelmente também moram na cidade.
4. a produção e o consumo estão internacionalizados.
Ora essas características são muito mais comuns no mundo urbano que no mundo rural, quer dizer o mundo rural está mudando de conteúdo e está recebendo formas urbanas de se viver e de se produzir.
Agora vamos nos referir à crítica contra esse sistema moderno normalmente sofre: o sistema moderno é responsabilizado pela proliferação de doenças, de impactos graves ao meio ambiente, tais como exemplificam o caso da vaca louca, a doença dos porcos, o risco dos transgênicos etc.
Além disso, há um outro aspecto – esse sistema destruiria as formas tradicionais e estaria dissociado das necessidades humanas essenciais e visando lucro...voltado para a sociedade urbana. Como conclusão passa-se a idéia de que o sistema tradicional seria mais puro, menos impactante e mais humano. O que pode ser uma falácia.
Estamos diante de uma realidade insuperável. Não há como na sociedade contemporânea apresentar como alternativa ao sistema agropecuário moderno, modelos produtivos tradicionais ligados ao mundo rural. Isso é irrealista.
Esse gênero de crítica que demoniza por definição o sistema moderno, tira energia da crítica necessária ao aperfeiçoamento do modelo, algo possível, a despeito do poderio das corporações que atuam no ramo.

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