quinta-feira, 7 de maio de 2009

Uma apreensão geográfica do Turismo e do Lazer

Jaime Oliva

A busca da precisão conceitual integrou-se à cultura da Geografia recentemente. Esse é um sintoma da transformação desse campo numa ciência de fato. A longa trajetória da Geografia, foi marcada por um saber pouco controlável, difuso e inapreensível enquanto um foco mais ou menos estável sobre o mundo empírico (objeto de estudo).

O panorama vem se alterando e hoje já não causa estranheza buscar e estabelecer conceitos geográficos, criados a partir da percepção da espacialidade existente nos elementos e relações que compõem a complexidade do mundo empírico. A seguir um pequeno exemplo de construção conceitual que se alimenta da distinta espacialidade de dois fenômenos constantemente confundidos. Trata-se da conceituação de turismo e de lazer.

Para que a definição seja bem precisa, basta cuidar de dois conceitos-chave: cotidiano ↔ lugar. Um elemento que compõe o cotidiano de qualquer pessoa é o lugar, o lugar geográfico. Lugar é o quadro geográfico de vida, no qual a distância não impede que as relações do dia-a-dia (moradia, trabalho, escola, lazer, relações pessoais) se realizem. O que não podemos realizar no dia-a-dia, porque é muito longe para nós, está fora de nosso lugar. E está fora de nosso cotidiano. Uma frase resume essa conceituação: o lugar é o tamanho geográfico de nosso cotidiano. Veja o quadro a seguir:


O lazer é uma prática presa ao lugar, ao seu lugar. E o turismo é uma prática fora do seu lugar e fora do cotidiano. Implica em viagem. Mas, há um problema a ser levantado: todas as viagens podem ser caracterizadas como turismo? Se, por exemplo, alguém vai a um enterro de um parente, não foi fazer turismo. Mas há muitas práticas que envolvem viagens que estão sendo chamadas de turismo, e o melhor exemplo é o chamado turismo de negócios. E aqui está o desafio: faz sentido dizer que pessoas que viajam a negócios possam praticar algo que possa ser chamado de turismo? Aliás, a expressão turismo de negócios não é contraditória?

A seguir, uma demonstração de uma análise conceitual do chamado turismo de negócios: Seguimos os itens do quadro que definiu o turismo e o lazer:

► Uso de tempo livre sob o domínio do praticante: o “turista de negócios” não preenche esse requisito. Vai trabalhar, não está usando um tempo livre. Muito menos está indo para onde quer e deve voltar quando mandarem, logo, não está dominando a situação.

► Recreação, diversão e passeios diversos: na localidade para a qual viajou, o “turista de negócios” vai trabalhar e lá pode ser que ele tenha algum tempo livre e vai praticar alguma atividade que o turista convencional realiza. Assim, ele é brevemente (e bem parcialmente) um turista.

► Tempo livre no interior do cotidiano: um profissional que viaja com freqüência, de certo modo integra essas viagens ao seu cotidiano. Assim, o seu tempo livre é quase como o tempo livre que ele tem no seu lugar de habitação.

► Tempo livre fora do cotidiano: o “turista de negócios” não está bem fora do seu cotidiano, não foi ele quem escolheu estar no destino do trabalho e continua sob o compromisso do trabalho. O tempo livre que ele tem termina sendo dentro do cotidiano.

► Prática realizada no seu lugar ou prática realizada fora de seu lugar: o “turista de negócios” não está em seu lugar, mas está trabalhando. No tempo livre, parte do que realiza pode ser parcialmente identificado ao turismo.

► Quando apenas alguns lugares são atração: para o morador de um lugar, apenas alguns lugares são atrações para o lazer, mas, para um turista, qualquer lugar fora de seu cotidiano tem sua atração. E isso serve para o “turista de negócios”, que, mesmo indo trabalhar, não vai deixar de se excitar com os novos lugares que o estarão envolvendo.

Assim, submetendo a noção de turismo de negócios a esse escrutínio conceitual, cuja chave são os conceitos de lugar e cotidiano, podemos concluir que turismo de negócios é quase que uma metáfora, e turismo de fato não é, mesmo que a denominada indústria do turismo não concorde.

Um comentário:

pk disse...

Muito bom o seu artigo. Foi sem duvida no mínimo esclarecedor, pois, a principio é muito difícil definir o que é turismo e o que é Lazer.

Sem mais: Rafael da Silva Almeida