Jaime Oliva
A noção de cidade mundial que se celebrizou é construída com base num critério econômico, mais especificamente financeiro. Nesse sentido uma cidade como Londres, que atualmente, conta com uma população em torno de 10 milhões de habitantes, bem menor que São Paulo, leva vantagem quanto à sua capacidade de influência se comparada à capital paulista. O curioso é que os geógrafos abraçam sem reservas essa abordagem econômica da cidade mundial, quando a própria ideia de que cidades podem alcançar, com suas influências, a escala mundial é um enunciado geográfico. De partida. Será que o olhar geográfico sobre a realidade das influências interescalares das grandes cidades não enxergaria nada além do que a explicação da força financeira isolada de um núcleo urbano? Com o objetivo de caracterizar a condição das cidades quanto à sua capacidade de influenciar e se articular a outros espaços e outras sociedades, os estudiosos do fenômeno urbano têm procurado classificá-las e, nesse esforço, vários termos vêm sendo empregados: metrópoles; megalópoles (megapólis e gigapólis); cidades mundiais ou globais; arquipélago megapolitano mundial; entre outros.
Todos esses termos referem-se a cidades ou reunião de cidades (a espaços urbanos) que têm a capacidade de se inserir em escalas mais elevadas, de se inserir, no limite, na escala mundial. A definição de metrópole mais comum diz respeito à sua capacidade de comandar territórios, sociedades e negócios para além de seu próprio território. São Paulo corresponderia a essa situação? Quanto à rotulação de uma cidade como cidade mundial ou global trata-se, antes de tudo, de um olhar econômico, como foi dito. Nos anos 1990, admitia-se que apenas três metrópoles chegavam a tanto: Tóquio, Nova Iorque e Londres. Hoje, já se admite que outras mais podem ser consideradas cidades mundiais. E São Paulo? Ainda, segundo essa maneira de classificar as cidades, não teria alcance global, mas teria forte alcance regional ou zonal. Uma contraposição interessante à "ideia reducionista" de cidade mundial parte de uma elaboração do geógrafo Olivier Dollfus sobre a existência de um arquipélago megapolitano mundial, constelação de espaços que articulam metrópoles e megalópoles (configurações regionais), que canalizam forças urbanas regionais, até internacionais e a partir disso essas configurações ganham condições para influenciar a escala mundial. Principalmente em razão da posição e da articulação nessa rede cuja imagem metafórica de arquipélago procura apreender. Talvez o ideal fosse apenas verificar se a cidade propicia um acesso cotidiano de sua população e de suas relações em geral à escala mundial. E isso São Paulo proporciona de forma evidente, visto sua posição no arquipelago magapolitano mundial. Nesse caso, seria uma cidade global. Não somente porque influencia, mas porque recebe a influência e pertence à rede geográfica da globalização.
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