sábado, 16 de maio de 2009

Cidade, um conceito espacial: o caso de Jerusalém

Jaime Oliva
Boa parte dos aspectos definidores da cidade está presente em qualquer narrativa sobre Jerusalém, pois essa cidade pode ser identificada como:
• lugar de cultivo do espírito humano – o conteúdo religioso salta aos olhos como local simbólico das grandes religiões monoteístas;
• local de diversidade étnica e religiosa;
• local de encontro, de atração de peregrinos e de diversidade o que também faz parte da natureza das cidades (com freqüência essa diversidade foi marcada por conflitos, mas lá estão todos juntos, demonstrando que é possível a convivência de diferentes, e que cidade é isso).
“As pedras falam, em Jerusalém”, essa afirmação sobre Jerusalém torna nítida a relação cidade-espaço, graças à presença, de forma hiperbólica, de algumas das características essenciais de uma cidade. Ao mesmo tempo, a frase dá muita ênfase ao que podemos chamar de ‘natureza do espaço geográfico’.
A cidade não se resume ao caráter físico de suas construções. Ela corresponde a um conjunto de objetos geográficos, cada um deles detentor de conteúdos sociais muito significativos (e mutantes) ligados à predisposição do ser humano para a vida social.
Na prática, toda intervenção humana no espaço geográfico tem por objetivo criar condições para que as relações sociais se intensifiquem. O geógrafo Jacques Lévy tem elaborações muito interessantes sobre essa questão e para ele uma cidade nada mais é que uma forma de viver e uma organização espacial, buscando aproximar ao máximo pessoas de origens diversas, aumentando o número e a freqüência das relações entre pessoas diferentes. Isso pode gerar conflitos, mas em geral promove o avanço da humanidade para outros patamares.
A essência do mundo urbano é a interação social entre diferentes. Por isso mesmo, as cidades geraram ou desenvolveram as religiões, as linguagens, a política, a filosofia, as ciências, as artes, os esportes, obras humanas que não brotariam no isolamento, com baixo número de relações humanas.
A cidade significa uma ampliação do universo espiritual humano, ou, dito de outra forma, o lugar do cultivo do espírito humano. Ela é, portanto, o maior símbolo humano da busca do contato direto, da distância zero.
Nem todas as relações ocorrem sempre por contato direto, nem mesmo nas cidades. Por isso, além de fazer cidades, os seres humanos vêm ao longo do tempo desenvolvendo outros meios de gerir a distância geográfica. Todo o empenho na construção de meios de transporte (navegação, estradas de todo tipo, trens, aviões) é uma luta por controlar a distância geográfica e evitar que ela impeça as relações.
Cidade, um símbolo humano: todo objeto geográfico tem esse conteúdo social, comunicando algo. O objeto geográfico corresponde a sua configuração física aliada a seu conteúdo social – o objetivo –, que é dado pelo ser humano. Um santuário – o Muro das Lamentações, ou a Mesquita de Omar ou a Catedral do Santo Sepulcro– nos transmite espiritualidade, projetada nele pelo ser humano. De forma equivalente, um estádio transmite seu conteúdo esportivo aos aficcionados. Isso é a essência do espaço geográfico e da renovação da Geografia: não separar forma e conteúdo do espaço geográfico.

Um comentário:

Eduardo Marculino disse...

Parabéns pela postagem....
estarei sempre voltando a este blog.
um abraço