domingo, 15 de março de 2009

A 1ª RENOVAÇÃO DA GEOGRAFIA ESCOLAR


Jaime Oliva
Estávamos em meados dos anos 1980, quando a Geografia Escolar brasileira, em especial no Rio de Janeiro e São Paulo, será reestruturada. Os impulsos dessa renovação não vieram dos ambientes formais dos departamentos de Geografia desses dois centros. A iniciativa estava com os recém-formados ou os ainda estudantes que se mostraram inconformados em reproduzir o que estava posto na Geografia Escolar Tradicional.
Além do contexto nacional de contestação que se ampliava naquele momento, o que interferia na atmosfera dos vários cursos universitários, a Geografia acadêmica era denunciada na sua paralisia e alienação, quer dizer: essa disciplina possuía uma especificidade e aquele período funcionou uma forma de acerto de contas com o passado. Os novos praticantes da Geografia Escolar bebiam na fonte da contestação à Geografia Tradicional, e essa fonte não estava institucionalizada. Seus protagonistas eram pós-graduandos, professores não-absorvidos pela universidade, como no caso de Milton Santos que custou a ser admitido de forma definitiva na universidade brasileira, após seu retorno do exterior.
E qual o perfil dessa reestruturação da Geografia Escolar, que aqui vamos chamar de 1ª renovação da Geografia Escolar? As características que vamos indicar se referem essencialmente às mudanças internas:
a. a descoberta da escala global: se na Geografia Escolar anterior havia uma obsessão pela escala regional, recorte inevitável para todos os fenômenos geográficos (algo inconsistente que até hoje se mantém nos quadros da Geografia, inclusive em correntes inovadoras), essa renovação no sistema escolar (sem um suporte formal das universidades) vai introduzir em suas aulas e posteriores materiais didáticos (e nesse caso José William Vesentini foi um precursor) a ideia de ordem mundial. Haveria uma ordem mundial, algo estruturado por um “sistema econômico” que articulava política e geopolítica e que conseguia atuar em escala mundial, logo “criando um mundo”. E esse sistema é o capitalismo, figura ausente na Geografia Escolar tradicional e onipresente na Geografia Escolar renovada. A desigualdade do mundo era produto da dinâmica capitalista, logo a partir daí os novos programas de Geografia fecundados nesse contexto vão regionalizar o mundo (agora há um mundo a ser regionalizado) usando critérios da própria estrutura interna (da presumida) do sistema: divisão do trabalho é o símbolo dessa matriz regionalizante.
b. a descoberta da discussão conceitual: o descritivismo tipo inventário regional será substituído por análises que vão exigir equipamento teórico associado à crítica do capitalismo;
c. novos temas ingressarão na Geografia, associados às desigualdades sociais e suas manifestações espaciais (pobreza, situações degradadas das cidades, das moradias etc);
d. a escala local (a cidade e o urbano) servirão para exemplificar as desigualdades paridas pelo sistema capitalista, mas de fato essa escala não ganhará muito espaço na reflexão programação dessa Geografia Escolar renovada;
e. a Geografia Física sofrerá com tentativas de novos enfoques, mas perderá terreno no conjunto dos programas visto o volume e a urgência dos temas represados no interior da Geografia Escolar.

Um comentário:

Viviane disse...

olá.na educação sinto uma séria resistência principalmente dos alunos, pois foram sempre expostos ao tradicionalismo da geografia desde sempre, o que os torna também um pouco fruto desse passado. Dos profissionais, a resistência é histórica,e já esperada.