sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

A Turistificação do mundo

Jaime Oliva

O turista ignorado: O geógrafo Rémy Knafou afirma que não se conhece o turismo, pois o turista não é estudado a contento. Vítima de preconceitos, ele é ignorado. Knafou identifica a rejeição ao turista a partir das territorialidades diversas que se confrontam em lugares distintos: “[...] a territorialidade sedentária dos que aí vivem freqüentemente, e a territorialidade nômade dos que só passam, mas não têm menos necessidade de apropriar, mesmo fugidiamente, dos territórios que freqüentam”.(KNAFOU, 1999, p. 64).

O desrespeito ao turista: O “turismo de massa” é rechaçado pelo local e pelo turista sofisticado ou pelo “turista respeitador da natureza”. Incomoda porque coloca em questão a “ideologia do enraizamento” (expressa, por exemplo, nos ditos “direitos superiores dos locais”) e a ideologia do trabalho. É um aspecto de recusa do outro. Quais as relações que podemos ter com os lugares quanto estamos nômades? O próprio turista em atividade incorpora esses preconceitos: se não há turistas fomos enganados porque o espaço não é turístico; se tem, e é muito... “- eu não agüento isso!”

Motivações do turismo: o ser humano no mundo moderno inevitavelmente seria turista. Isso em razão do aumento da mobilidade geográfica individual, pelo aumento da renda e da existência da renda regular, e o aumento do tempo livre, associado à turistificação dos lugares (a mobilidade de informações permite conhecer, mitificar, desejar). Agora são grandes contingentes de turistas, com a perspectiva de crescimento.

O turismo é condenado porque destruiria o meio ambiente: na cultura ambientalista, via de regra, transformação é degradação. Antes era melhor: o que em geral é algo que nada significa. O que hoje é tido como muito bom pode ter tido um antes pior; o que hoje é tido como muito ruim pode ter tido um antes pior ainda. Depende do ponto de vista: antes não se defendia a biodiversidade atualmente se defende, nesse sentido o antes era pior. Está tudo muito cheio: visão malthusiana amparada atualmente na visão de turismo sustentável. Qual o limite de carga que uma área suporta sem ser degradada? Seria o turismo um devorador econômico do próprio recurso que lhe deu origem, por exemplo, da paisagem (idéia de beleza)? Degradaria a paisagem na multiplicação dos negócios. Isso não poderia ter controle? Lugares urbanizados espantariam os turistas: será mesmo? Mas, esses não são os lugares turísticos mais freqüentados, os que mais atraem as pessoas, entre outras razões porque está cheio de gente?

Observações críticas: o turismo e o turista estão em perfeita consonância com nosso mundo, com a modernidade, com tudo o que ela criou, em especial a mobilidade. Muitos dos críticos do turismo são antimodernos, recusam um mundo de relações, pois o entendem como destruidor das peculiaridades locais. Muito da crítica ambientalista se inscreve nesse gênero de abordagem. A despeito das condenações a atividade continuará e se multiplicar, isso parece muito evidente, em razão das condições de vida que o mundo moderno promove. Quanto a conter a degradação promovida pelo turismo é evidente que quanto menos um lugar for dependente do turismo mais ele a suporta. Uma cidade diversificada suporta mais a multiplicação dos negócios turísticos que um lugar muito dependente do turismo que acaba não tendo força para suportar a multiplicação em excesso, o exaurir dos recursos.

Nenhum comentário: