Jaime Oliva
Da antiguidade ao século XVIII a história da Geografia é a da inscrição progressiva de todas as partes da Terra no quadro cartográfico de vocação universal imaginado pelos gregos: o essencial do trabalho é feito do Atlântico ao Indo desde a Antiguidade; os árabes vão estender esses esforços até a Ásia central e à África sul-sahariana e oriental; as grandes descobertas incluem as costas da América, o extremo-oriente e a Oceania. O que vai restar é integrar o interior dos continentes (o que acontecerá no decorrer do século XIX) e as regiões polares que por sua vez serão incluídas no quadro geral no início do século XX. A postura de associar (de vincular, de fundir, confundir) história da Geografia com a construção do quadro universal das localizações permanecerá vivo ainda no século XIX.
Observação crítica (sobre a Geografia inclusive): esse empreendimento da Geografia foi útil, sem dúvida, mas é abusiva a afirmação comum ainda no século XIX que a inscrição do conjunto da Terra no esquema cartográfico universal resulta da conquista da terra pelo Ocidente. E muito da história da Geografia propalou essa falsidade, ao menos essa é opinião do geógrafo Paul Claval.
Caminhando para a Geografia contemporânea: quando ficou mais fácil medir as longitudes (1740 – John Harrison – cronômetro marinho) a Geografia entrou em crise: “A cartografia torna-se apanágio dos geodésicos e dos engenheiros topógrafos, cujas formações eram puramente científicas. Os geógrafos devem se reconverter. Como eles tinham o hábito do trabalho de arquivo e de biblioteca, alguns, na França em particular, se orientam em direção a reconstituição das Geografias do passado, em ligação com a História. A via se revela pouco frutífera. A reorientação que dará certo ligou-se aos avanços das ciências naturais: os geógrafos aprofundam sua descrição do mundo graças ao vocabulário e as noções que lhe fornecem a botânica, a zoologia a mineralogia, a geologia e a agronomia. É na Alemanha, onde o sucesso das filosofias da natureza é grande, que as novas orientações se impõem sobretudo, graças a Alexandre von Humboldt (1769-1859), físico, botânico, estatístico, viajante e geógrafo, e a Carl Ritter (1779-1859).” (Paul Claval)
Como será a observação naturalista da Geografia reconvertida: preocupam-se com os processos; os geógrafos acham-se explicando o que eles vêem invocando a latitude, a altitude, a maior ou menor proximidade dos mares, os ventos dominantes, as correntes marinhas, as modalidades de erosão para as águas correntes, o vento, os glaciais etc. Esses geógrafos de vocação naturalista (primeira metade do século XIX) não ignoram a ação dos homens na modelação da superfície, mas eles não experimentam a necessidade de opor Geografia física e Geografia humana. Seus interesses se dirigem de preferência para a Geografia regional, pois é a busca da explicação da diversidade da superfície terrestre que seus trabalhos conduzem.
Desenrolar dessa Geografia: o evolucionismo irá influenciar essa Geografia → Darwin irá influenciar, mas também Lamarck → a questão que se coloca é a da integração das sociedades humanas na natureza: a Geografia humana que nasce entre 1880 e 1900 é uma ecologia humana graças a Friedrich Ratzel (1844-1904) na Alemanha e a Paul Vidal de La Blache na França (1845 – 1918). Trata-se, então, de medir o peso dos constrangimentos naturais na vida das sociedades. O risco aqui é de adotar uma atitude determinista. La Blache escapa apoiando-se em Carl Ritter → as ligações que os seres humanos tecem com a natureza consideram a diversidade de meios e enfatiza o papel dos gêneros de vida, que variam com as técnicas que se domina → a Geografia torna-se, assim, uma ciência da humanização das paisagens → na Alemanha e nos EUA essa concepção se desenvolve mais plenamente → Carl Sauer (188-1975), ilustra bem → a Geografia cultural (humana) se vincula, em particular, à transformação biológica dos meios sob a influência da introdução de espécies cultivadas e de animais domésticos.
Bibliografia
Paul CLAVAL. Histoire de la Géographie. LÉVY, Jacques ; LUSSAULT, Michel. Dictionnaire de la Géographie et de L’ espace des sociétés. Paris, Belin, 2003, p . 459-464.
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