Jaime Oliva
Há uma constatação geral na sociedade contemporânea: embora as oscilações conjunturais da economia (ciclos de crescimento alternando com períodos de crise) interfiram no índice de emprego, há algo estrutural acontecendo na composição geral do emprego. A evolução tecnológica vem eliminando um número elevado de postos de trabalho na produção industrial e até em alguns segmentos de serviços (por exemplo, a informatização no setor bancário, no sistema comercial etc.). Isso eleva o padrão de produtividade das empresas. Desse modo a abertura de novos postos de trabalho depende da multiplicação de novos empreendimentos, que mesmo assim já nascem com o número muito mais limitado de vagas do que, no passado, a expansão horizontal da economia propiciava. Por outro lado, a evolução tecnológica, dos conhecimentos em geral e a produção de novas necessidades humanas abrem o horizonte para atividades inéditas, que ou não existiam anteriormente ou não eram objeto de exploração econômica (um breve olhar na lista de áreas mais procuradas nos vestibulares ilustra bem essa afirmação). Obviamente, a concorrência por um posto de trabalho nesse quadro se reveste de exigências muito mais rigorosas do que em outras épocas. No Brasil, um quadro de certa estagnação econômica (afinal as taxas de crescimento têm sido medíocres nos últimos 20 anos) aperta ainda mais a concorrência no mercado para os postos de trabalho e por espaço para novos empreendimentos.
Será essa situação uma tendência geral da economia moderna. Isso quer dizer que em todos os países o processo é mais ou menos assim ou há especificidades a serem entendidas? Por exemplo: um país como a China não vai, em alguma medida, na direção contrária, em que evolução tecnológica convive com enorme crescimento econômico e utilização maciça de mão-de-obra de vários níveis de qualificação? Voltando ao Brasil, não dá para afirmar que algo intrigante acontece? Enquanto a concorrência se intensifica no mercado de trabalho pelas novas exigências de qualificação (o que inclui novas posturas do empregado) e também pela ausência de crescimento econômico importante, não há uma concordância geral que o Brasil está longe de ser um país como uma economia inteiramente modernizada? Quais seriam as razões para isso? Certamente poderíamos assinalar como uma das razões as enormes disparidades econômico-regionais do país. Mas, muitos analistas apontam como uma das razões para a falta de crescimento sustentado, o que inclui algum nível de desenvolvimento tecnológico autonômo, a carência de profissionais bem preparados em todas as áreas. Em vista das grandes dificuldades com as quais o sistema de ensino brasileiro ainda convive, a constatação de carência profissional não faz sentido? Mas, caso essa constatação seja real ela não entraria em contradição com o teor de muitas descrições e situações que indicam uma concorrência acirrada que se deve ao grande número de profissionais muito bem equipados em termos curriculares? Ou a contradição está no processo macro-estrutural do nosso desenvolvimento, que possui um núcleo diminuto de economia modernizada que não consegue absorver todos os profissionais bem preparados, ao mesmo tempo em que esse “excesso” desempregado não pode atuar no sentido de ampliar o grau de modernização da economia brasileira, inclusive e principalmente, visando uma amenização das desigualdades sociais e regionais? Um exemplo disso: o excesso de candidatos doutores e mestres (e outras qualificações) por uma vaga, não ocorre na disputa por vagas nas universidades federais públicas e nas privadas na maioria das cidades brasileiras. E nem em empregos em outras atividades. Isso é apenas uma realidade localizada no espaço (no sudeste, em especial) e no tempo (nessa conjuntura de ausência de crescimento). Outro exemplo, até mais importante, refere-se à diminuição da mobilidade social, que é um fenômeno que serve para demonstrar a expansão estrutural da economia. Os alunos atuais de engenharia em sua maioria têm pais já com cursos universitários (e certamente bem situados na vida). Diferentemente de 20 anos atrás, onde era comum, que os novos contigentes na universidade viessem de segmentos sociais cujos pais eram trabalhadores braçais, por exemplo. Isso não é demonstração que a economia está “encalacrada” e se reiterando num núcleo restrito de modernização?
Outro aspecto muito interessante dessa questão é o como se desempata a concorrência. Aliás, esse aspecto diz muito mais do que parece. Além da formação, do domínio de línguas etc. as empresas procuram profissionais com posturas pessoais associadas à criatividade, à iniciativa etc. Se isso for real não há aqui um indício dos problemas do nosso ensino? É claro que alguns predicados como criatividade e iniciativa desenvolvem-se na vida de um modo geral, mas o sistema de ensino não deveria dar uma contribuição importante aí? Isso é uma prerrogativa somente da natureza, da genética, ou pode ser aprendido? Será que a aquela velha crítica sobre o afastamento da universidade brasileira da realidade pode ser reativada nesse caso? Será que não há certo mecanicismo no ensino voltado para um excesso de informações (um enciclopedismo sem sentido), desprovidas de qualquer objetivo analítico, o que de fato desenvolve a capacidade de pensar, de refletir, sem o que não há visão de país e nem criatividade e nem espírito empreendedor? Não é um pouco de lenda imaginar que a criatividade é algo no campo da intuição humana e não pode ser aprendida? A criatividade não depende também do conhecimento sobre o campo onde a criação é necessária (aliás, todos os campos exigem isso)? Isso justifica inclusive porque as profissões são dinâmicas, porque algumas desaparecem e em razão do que surgem outras? A criação está em andamento sempre, em tese. Mas se nossa universidade não está “produzindo” profissionais criativos ela não está defasada da realidade? Isso não é uma das razões da restrição estrutural de nosso ambiente econômico?
Será essa situação uma tendência geral da economia moderna. Isso quer dizer que em todos os países o processo é mais ou menos assim ou há especificidades a serem entendidas? Por exemplo: um país como a China não vai, em alguma medida, na direção contrária, em que evolução tecnológica convive com enorme crescimento econômico e utilização maciça de mão-de-obra de vários níveis de qualificação? Voltando ao Brasil, não dá para afirmar que algo intrigante acontece? Enquanto a concorrência se intensifica no mercado de trabalho pelas novas exigências de qualificação (o que inclui novas posturas do empregado) e também pela ausência de crescimento econômico importante, não há uma concordância geral que o Brasil está longe de ser um país como uma economia inteiramente modernizada? Quais seriam as razões para isso? Certamente poderíamos assinalar como uma das razões as enormes disparidades econômico-regionais do país. Mas, muitos analistas apontam como uma das razões para a falta de crescimento sustentado, o que inclui algum nível de desenvolvimento tecnológico autonômo, a carência de profissionais bem preparados em todas as áreas. Em vista das grandes dificuldades com as quais o sistema de ensino brasileiro ainda convive, a constatação de carência profissional não faz sentido? Mas, caso essa constatação seja real ela não entraria em contradição com o teor de muitas descrições e situações que indicam uma concorrência acirrada que se deve ao grande número de profissionais muito bem equipados em termos curriculares? Ou a contradição está no processo macro-estrutural do nosso desenvolvimento, que possui um núcleo diminuto de economia modernizada que não consegue absorver todos os profissionais bem preparados, ao mesmo tempo em que esse “excesso” desempregado não pode atuar no sentido de ampliar o grau de modernização da economia brasileira, inclusive e principalmente, visando uma amenização das desigualdades sociais e regionais? Um exemplo disso: o excesso de candidatos doutores e mestres (e outras qualificações) por uma vaga, não ocorre na disputa por vagas nas universidades federais públicas e nas privadas na maioria das cidades brasileiras. E nem em empregos em outras atividades. Isso é apenas uma realidade localizada no espaço (no sudeste, em especial) e no tempo (nessa conjuntura de ausência de crescimento). Outro exemplo, até mais importante, refere-se à diminuição da mobilidade social, que é um fenômeno que serve para demonstrar a expansão estrutural da economia. Os alunos atuais de engenharia em sua maioria têm pais já com cursos universitários (e certamente bem situados na vida). Diferentemente de 20 anos atrás, onde era comum, que os novos contigentes na universidade viessem de segmentos sociais cujos pais eram trabalhadores braçais, por exemplo. Isso não é demonstração que a economia está “encalacrada” e se reiterando num núcleo restrito de modernização?
Outro aspecto muito interessante dessa questão é o como se desempata a concorrência. Aliás, esse aspecto diz muito mais do que parece. Além da formação, do domínio de línguas etc. as empresas procuram profissionais com posturas pessoais associadas à criatividade, à iniciativa etc. Se isso for real não há aqui um indício dos problemas do nosso ensino? É claro que alguns predicados como criatividade e iniciativa desenvolvem-se na vida de um modo geral, mas o sistema de ensino não deveria dar uma contribuição importante aí? Isso é uma prerrogativa somente da natureza, da genética, ou pode ser aprendido? Será que a aquela velha crítica sobre o afastamento da universidade brasileira da realidade pode ser reativada nesse caso? Será que não há certo mecanicismo no ensino voltado para um excesso de informações (um enciclopedismo sem sentido), desprovidas de qualquer objetivo analítico, o que de fato desenvolve a capacidade de pensar, de refletir, sem o que não há visão de país e nem criatividade e nem espírito empreendedor? Não é um pouco de lenda imaginar que a criatividade é algo no campo da intuição humana e não pode ser aprendida? A criatividade não depende também do conhecimento sobre o campo onde a criação é necessária (aliás, todos os campos exigem isso)? Isso justifica inclusive porque as profissões são dinâmicas, porque algumas desaparecem e em razão do que surgem outras? A criação está em andamento sempre, em tese. Mas se nossa universidade não está “produzindo” profissionais criativos ela não está defasada da realidade? Isso não é uma das razões da restrição estrutural de nosso ambiente econômico?
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