Jaime Oliva
Quais são as melhores cidades para se viver? Refletir sobre isso não é óbvio, embora não há que não tenha resposta para a questão. As discussões a respeito estão estacionadas. A começar pelo conjunto de lugares comuns sobre as grandes cidades: essas seriam estressantes, desumanas, perigosas, congestionadas, poluídas, em suma, reduto de uma vida de má qualidade. Mas, muitos vêem nas grandes cidades virtudes para usufruir suas vidas, para sua formação social, cultural e profissional. As virtudes realçadas somente são possíveis em cidades de grande porte. A grande questão é que nas grandes cidades vivem milhões e milhões de habitantes. Será que a qualidade de vida notada, por exemplo, por jovens solteiros bem inseridos socialmente não pode ser estendida ao conjunto dos habitantes, independente de serem solteiros, jovens e de possuírem renda média? (vide http://veja.abril.com.br/030805/p_112.html)
As grandes cidades, e as grandes cidades brasileiras não são diferentes, estão fortemente presentes no imaginário da sociedade contemporânea. Elas ocupam, sem dúvida, a posição de localidades mais importantes da vida moderna. Isso não quer dizer que a visão dominante seja sempre positiva, mas mesmo pelo lado negativo, parece que nas grandes cidades os acontecimentos são mais decisivos para a vida social. E no que diz respeito à qualidade de vida quais são os critérios mais empregados para se chegar a opiniões? Quanto se fala em vantagens para jovens solteiros é comum mencionar os bens culturais e de lazer de uma metrópole, mas essas virtudes não podem ser usufruídas também por qualquer cidadão (por qualquer pessoa) seja casado, solteiro, adulto, idoso, adolescente ou criança? É aceitável admitir-se como natural que casais com família constituída abram mão desses recursos urbanos? Essas questões não costumam ser teorizadas, não parecem importantes quando o tema é a cidade. Porém, há elaborações teóricas simples, que ajudam a incluir ingredientes e critérios novos à discussão sobre a qualidade de vida nas cidades. Uma primeira constatação a princípio óbvia, mas que permanece oculta, mascarada da consciência social no Brasil: as cidades são aglomerações (diminuição da distância geográfica) de pessoas, que possuem múltiplos recursos sociais (materiais e imateriais) e isso é caracterizado por uma virtude chave: diversidade. Numa grande cidade não há repetição do mesmo em campo nenhum – as pessoas são diversas no que se refere à formação, à cultura, às experiências, às origens; as atividades econômicas são variadas; a cultura se manifesta de diversas formas, abrindo perspectivas para todas as potencialidades e gostos humanos. Interagir num quadro assim, em tese, é interessante para todos (e não somente para solteiros). E o que é preciso para que a interação seja proveitosa para todos os habitantes (esse é um dos sentidos melhores da expressão cidadania)? Uma cidade que garante à maioria dos seus habitantes, acesso aos seus recursos, é uma cidade que possui urbanidade. A seguir apresentamos um esquema produzido por um grande geógrafo sobre as duas situações extremas de urbanidade, simbolizadas por duas cidades que representam respectivamente o modelo europeu de convivialidade (Amsterdã) e o modelo da separação (Joanesburgo).
As grandes cidades, e as grandes cidades brasileiras não são diferentes, estão fortemente presentes no imaginário da sociedade contemporânea. Elas ocupam, sem dúvida, a posição de localidades mais importantes da vida moderna. Isso não quer dizer que a visão dominante seja sempre positiva, mas mesmo pelo lado negativo, parece que nas grandes cidades os acontecimentos são mais decisivos para a vida social. E no que diz respeito à qualidade de vida quais são os critérios mais empregados para se chegar a opiniões? Quanto se fala em vantagens para jovens solteiros é comum mencionar os bens culturais e de lazer de uma metrópole, mas essas virtudes não podem ser usufruídas também por qualquer cidadão (por qualquer pessoa) seja casado, solteiro, adulto, idoso, adolescente ou criança? É aceitável admitir-se como natural que casais com família constituída abram mão desses recursos urbanos? Essas questões não costumam ser teorizadas, não parecem importantes quando o tema é a cidade. Porém, há elaborações teóricas simples, que ajudam a incluir ingredientes e critérios novos à discussão sobre a qualidade de vida nas cidades. Uma primeira constatação a princípio óbvia, mas que permanece oculta, mascarada da consciência social no Brasil: as cidades são aglomerações (diminuição da distância geográfica) de pessoas, que possuem múltiplos recursos sociais (materiais e imateriais) e isso é caracterizado por uma virtude chave: diversidade. Numa grande cidade não há repetição do mesmo em campo nenhum – as pessoas são diversas no que se refere à formação, à cultura, às experiências, às origens; as atividades econômicas são variadas; a cultura se manifesta de diversas formas, abrindo perspectivas para todas as potencialidades e gostos humanos. Interagir num quadro assim, em tese, é interessante para todos (e não somente para solteiros). E o que é preciso para que a interação seja proveitosa para todos os habitantes (esse é um dos sentidos melhores da expressão cidadania)? Uma cidade que garante à maioria dos seus habitantes, acesso aos seus recursos, é uma cidade que possui urbanidade. A seguir apresentamos um esquema produzido por um grande geógrafo sobre as duas situações extremas de urbanidade, simbolizadas por duas cidades que representam respectivamente o modelo europeu de convivialidade (Amsterdã) e o modelo da separação (Joanesburgo).
Segundo esse esquema uma cidade com qualidade de vida é aquela que oferece acesso aos recursos para todos e não apenas para alguns segmentos sociais. Afinal, quantos jovens solteiros e;ou cidadãos em geral em São Paulo, ou em Curitiba, ou em Salvador têm realmente acesso às virtudes que uma cidade ofecere? Como sua cidade ficaria nesse esquema? Mais próxima do modelo de Amsterdã, uma cidade que realiza a maior parte de seus recursos de forma pública, ou, ao contrário, teria uma Joanesburgo corroendo sua alma, um estilo de cidade herdada de uma política de apartheid, com alto índice de segregação social e que abomina os espaços públicos? Ou ficaria numa situação intermediária? Pensando em São Paulo: essa cidade se sai bem conforme os critérios do esquema? Seus recursos educacionais, por exemplo, são equilibrados no que se refere à qualidade e acessíveis à todo o espectro social? Pessoas que não possuem automóveis têm à sua disposição a mesma cidade dos automobilizados? E os adultos casados conseguem acessar esses recursos, e os idosos podem sair autonomamente nessa cidade? Questões desse tipo podem e devem ser colocadas para qualquer cidade. Afinal se a cidade é uma configuração social, que vem se consolidando historicamente, deve-se esse fato a algo importante para as sociedades humanas e seguramente não é para isolar-se, para selecionar relações que se fez cidades, mas sim o contrário: para amplificá-las e enriquecê-las. Segregar-se, proteger-se em condomínios fechados, por exemplo, faz cair a qualidade de vida de uma cidade, representa uma regressão medieval e civilizatória, que desagrega as sociedades urbanas.
Um comentário:
Enquanto somos bombardiados pelas idéias (falsas) sobre a qualidade de vida nas "redomas" que se criam nas cidades,onde o ser social é reduzido,é oportuno,ao menos,a leitura deste texto para início de uma reflexão.
Parabéns!!
Mauricio Nunes
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