domingo, 11 de maio de 2008

Belém, 2007 anos depois de Jesus Cristo

Jaime Oliva

A cidade de Belém fica na Cisjordânia, território ocupado parcialmente por forças militares e por assentamentos de colonos israelenses. Ele é reivindicado como área exclusiva do futuro Estado palestino. A Cisjordânia é uma área chave na resolução dos conflitos entre israelenses e palestinos. No meio desse conflito a cidade de Belém, local onde teria nascido Jesus Cristo, e por isso tida como berço do cristianismo, sofre uma fratura muito séria no seu funcionamento e tem seu futuro como cidade, comprometido. Vale a pena discutir o que está em jogo.
Cidade – aproximação e separação: A área urbana de Belém é muito povoada, há uma grande concentração humana, de edificações, de negócios. A princípio uma cidade turística na medida em que recebe (recebia muito mais) muitos peregrinos cristãos e também turistas menos envolvidos que vêm conhecer a localidade onde nasceu Jesus Cristo. Sua localização nessa parte do Oriente Médio faz dela (assim como de outras cidades da região) uma espécie de passagem para duas realidades geográficas distintas: ali termina o mundo ocidental e inicia-se o oriente com sua profusão de culturas, fortemente marcadas por identidades religiosas. Por essa razão (e outras também, comuns a qualquer cidade) Belém abrigava e misturava populações, culturas e religiões distintas no interior (cristãos diversos, muçulmanos, judeus, principalmente). Além de conviver com turistas vindos de diversas partes do mundo ocidental. Uma reflexão se impõe: como aglomeração geográfica Belém estava aproximando realidades diferentes, que agora passavam a conviver. Essa convivência de diferentes é um fator de aumento da tolerância entre os diferentes, inevitavelmente, antes de tudo pela familiaridade que se constrói. O desconhecido é sempre mais assustador. Se vejo os diferentes sempre, se me relaciono com eles, mesmo que apenas por intermédio de contato visual, a tendência é ir diminuindo preconceitos e os medos. Os diferentes vão se humanizando aos nossos olhos. As chances de compreendê-los, com essa proximidade geográfica, são maiores. Esse é o papel produtivo da cidade, como agente construtor das sociedades modernas, mais amplas, menos isoladas e mais tolerantes. As trocas culturais ocorrem entre diferentes, e quem há de negar a força construtiva que o contato entre culturas teve na constituição do mundo contemporâneo, nosso mundo. Uma segunda reflexão que decorre da anterior: se os conflitos entre os diferentes (que nem se deram no interior de Belém) na região da Cisjordânia tornaram-se sérios a ponto de uma cidade como Belém ir se tornando um espaço fragmentado, cujas partes não convivem (israelenses apartados, números de palestinos muçulmanos crescendo, palestinos cristãos migrando) a cidade de Belém, perde sua força, vai se transformando numa anti-cidade: espaço de afastamento e de separação. As autoridades atuais do Estado de Israel chegaram ao ponto de criar uma muralha, isolando a cidade. Cidade isolada torna-se anêmica, sem energia, envenenada pelo ódio ao outro, ao diferente. Tanto por parte dos de dentro quanto dos de fora. Vale discutir, nessa circunstância, se as chances de entendimento, de acordos entre as partes em conflito (israelenses e palestinos) melhoraram ou pioram? Aproximação, contato e relacionamento amplo numa cidade versus Afastamento, separação e repulsa ao outro é algo que deve sempre ser discutido quanto o tema é o quadro vida urbano, e no caso de Belém não é diferente. Nada é mais importante que essa discussão. O cristianismo e o ocidente: Aquelas terras do Oriente Médio, palco dos insistentes conflitos entre israelenses e palestinos, cuja gravidade e o sofrimento decorrente não cessam de aumentar, nunca chegou a ser uma área de muita força do cristianismo. A história dessa religião, cujo berço é o Oriente Médio com suas sedes marcantes (Jerusalém, Nazaré, Belém), teve numa circunstância histórico-geográfica relevante um fator chave que a transformou numa religião (ou religiões) do Ocidente. É só atentar para o fato que a despeito de sua origem e de seu berço geográfico o catolicismo (ramo mais poderoso do cristianismo) denomina-se Igreja Católica Apostólica Romana. Roma, capital da atual Itália, majestosa sede do grande império romano, que entre outras áreas estendeu seus tentáculos até às portas do Oriente e foi o por seu intermédio, por sua capacidade de atuar em vastas áreas geográficas (o que não era para qualquer um) que o cristianismo foi “irrigado” para o Ocidente e se transformou numa poderosa força cultural de formação da Europa moderna e não do Oriente médio. Logo, a existência de cristãos em Belém é bela, faz sentido histórico, é um direito, mas francamente numa situação de conflito, de luta por terras, por formação de estado, contra ocupação inimiga etc. os cristãos nada contam e tendem mesmo a abandonar a área. E desse modo, talvez a relação do cristianismo com o Oriente Médio ficará restrito à história, pois no que diz respeito à geografia, o cristianismo é o ocidente. Aliás, não é essa a imagem da Europa e dos EUA perante os povos do Oriente, seja médio ou extremo?
Para se referir a esse artigo
OLIVA, Jaime. Belém, 2007 anos depois de Jesus Cristo, postado em 11/05/2008, http://jaimeoliva.blogspot.com/

Um comentário:

pk disse...

Professor adorei seu texto. Ele me faz pensar até que ponto a religião é boa na vida do homem; e se de fato a solução para alguns problemas da humanidade não seria acabar com essa religiões que em vez de pregar a paz e o amor só trazem a guerra e a lutar por interesses dos poderosos. Esse foi o caso da 2ª Guerra Mundial onde com a omissão da Igreja e com o apoio do papa foi possível a exterminação de mais de 6 milhões de Judeus. Gostaria de saber a opinião do senhor à respeito da existência dessas instituições e da interferências delas na geopolítica das nações.

Sem mais Rafael da Silva Almeida.