quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Uma delimitação da Ásia: realidade continental natural ou construída?

Jaime Oliva

-- A familiaridade com os mapas-múndi nos impôs uma realidade cartográfica: a Ásia; mas essa representação unificada aos nossos olhos, teria na realidade a mesma coesão histórica e geográfica? Ou estamos diante de um espaço fragmentado, percorrido por processos históricos dissonantes?
-- As disparidades históricas, demográficas, territoriais, econômicas, culturais ou religiosas tornam complexas e difíceis as cooperações políticas em razão dos numerosos conflitos persistentes (Coréia do Norte e do Sul; Caxemira; Sri Lanka; Oriente Médio – Israel, Palestina etc.), em especial agora que se intensifica uma interdependência entre os Estados-nação.
-- A Ásia contemporânea multiplicam-se processos de integração regional, que se encavalam e que não possuem, de fato, coerência de conjunto. A seguir dois exemplos de realidades regionais com dificuldades de integração;
-- Sudeste da Ásia: (Filipinas, Indonésia. Tailândia, Vietnã, Cambodja, Laos, Myanmar, Brunei, Malásia etc). Nessa região há certo esboço de integração. Os primeiros impulsos derivam da Guerra Fria e da descolonização e desaguaram na fundação da ASEAN (Associação das nações do sudeste asiático) que visava fortalecer a soberania dos Estados e possuía um viés anticomunista; objetivos: cooperação econômica a partir de 1980 e, sobretudo após a Guerra Fria. A segmentação do processo de produção transformou a região no “paraíso” das empresas japonesas, que se aproveitam da grande disponibilidade de mão de obra. No interior da ASEAN forma-se em 1992 a AFTA (Asean Free Trade Área) para facilitar o crescimento econômico e atrair investimentos estrangeiros. Mas, tudo é muito desigual no interior desse “bloco”, tamanho dos países e das populações, diferenças religiosas, o que dificulta a integração política...
-- Subcontinente indiano: do mesmo que o sudeste da Ásia há iniciativas de alguma integração regional dos países próximos ao oceano Índico. A Índia tenta relançar a SAARC (Associação pela cooperação regional na Ásia do Sul), que havia sido fundada em 1985, mas que não vingou: 1. Disparidades econômicas; 2. Fragilidade do comércio intra-regional; 3. Integrações nacionais problemáticas (rebelião tâmil no Sri Lanka, guerrilha maoísta no Nepal, tensões sérias na Índia, cisões graves no Paquistão etc); 4. Rivalidade Índia – Paquistão em relação à Caxemira; 5. A questão nuclear; 6. Uma desconfiança em relação à potencial regional (Índia).
De todo modo a SAARC, permitiu alguma coesão comercial em relação ao exterior, e indica uma perspectiva de uma futura zona de livre comércio... ela também é um lugar de encontro entre a Índia e o Paquistão... Esse exemplo mostra que mesmo uma realidade regional aparentemente coesionada pela proximidade geográfica, pela matriz cultural comum, pela história de colonização também comum, está fragmentada. Esse fenômeno só sem amplia se nossa referência escalar for a Ásia do mapa-múndi.

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