terça-feira, 29 de setembro de 2009

O Ocidente na Ásia: modernização conflituosa ou choque de civilizações?

Jaime Oliva

# Na vastidão asiática - do extremo oriente ao oriente onde se situa a área mais povoada do planeta - a diversidade cultural reflete a multiplicidade de etnias, primeiramente e das nacionalidades. Seria interminável uma busca de descrição mínima dessa diversidade e dos processos históricos que a forjaram (para horror dos culturalistas radicais que opõem cultura à história). Como usar então a dimensão cultural como via de entrada na complexidade asiática?

# Tendo como exemplo o Islã, sem dúvida um dos elementos constituintes da dimensão cultural asiática, vale aproveitar as descrições de Karen Armstrong das várias fases expansionistas do Islã (a partir de 700 d.C.), para se extrair algumas conclusões: seja criando um império por todo o Oriente Próximo, que abre caminho para a Ásia Central, chegando até a Índia; seja expandindo-se para o norte da África e chegando até a Europa mediterrânea (península Ibérica) e posteriormente até a Europa do Leste o Islã nesses 8, 9 séculos de expansão, sustentou-se a partir de estados agrícolas que estruturam apenas sociedades tradicionais.
Na expansão não teve força (e nem pretendeu) exportar seu modo de vida e criar sistemas duradouros de exploração econômica nas áreas dominadas. Modificações culturais promovidas por esta expansão, assim como a dos mongóis (a partir também de estados agrícolas mal institucionalizados), foram significativas, a história andou sem dúvida, mas não a ponto de superar-se o quadro dominante de sociedades “comunitárias” e tradicionais. Culturas diferentes, mas “culturas cultivadas” como tradições que eram referências para o presente se mantiveram sob o Islã, o confucionismo, o budismo, o hinduísmo, xintoísmo etc. Assim, como no Ocidente o cristianismo não era uma fonte de superação desse “modelo social” que ali também “reinava”.

# De fato a grande transformação cultural que a Ásia (oriente médio, Ásia central, subcontinente indiano, sudeste asiático – Indochina, extremo oriente) virá do Ocidente, e será o processo de modernização, e que por isso mesmo, também pode ser chamado de ocidentalização.
# E como será a modernização asiática? Ela está em curso e é desigual, e necessariamente conflituosa. Se a modernização européia, fonte original desse processo, logo um processo interno, foi em muitos momentos “banhada em sangue” e teve seus elementos centrais gestados durante mais de 300 anos, o que poderemos dizer da modernização asiática que foi e está sendo:
1. Um processo externo, importado por vontade e interesses do exportador – usando quase sempre a colonização e outros meios coercitivos, logo um processo de subordinação; 2. Um processo com baixo respaldo interno a princípio, em vista da dissintonia cultural de origem – não total é verdade e também por causa da desqualificação inerente dos elementos locais; 3. Um processo sólido, fundamentado numa superioridade econômica – e militar – jamais vista na história da humanidade.
A expansão ocidental se dá com base numa lógica econômica e social sistematizada e estruturada de modo duradouro, e termina promovendo muito mais mudança cultural que a expansão do Islã ou do cristianismo no passado, mesmo que esses últimos fossem mais diretamente elementos diretos da dimensão cultural. Isso mostra como todas as dimensões sociais estão interpenetradas.

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