terça-feira, 21 de abril de 2009

O trabalho nas sociedades modernas

Jaime Oliva

Em nosso mundo - o mundo moderno - o trabalho sempre ocupou um papel central na vida das pessoas. Sua importância ultrapassa em muito a dimensão econômica e participa da própria constituição do ser humano. Por exemplo: boa parte da vida das pessoas será dedicada ao trabalho, inclusive no período de infância onde já ocorre a formação para o trabalho. O trabalho ajuda a definir a condição social, a afirmação psicológica, os sonhos e as perspectivas dos indivíduos. Daí as afirmações que “um homem sem trabalho, sem uma profissão não é nada e não pode ter nada...”, “que é o trabalho que dignifica o homem...”, e muitas outras afirmações tão comuns quanto essas.

Se aplicarmos o mesmo raciocínio para o plano social (coletivo) notaremos que as estruturas sociais da sociedade moderna estão igualmente construídas em torno do trabalho. A massificação do sistema de ensino veio atender, antes de tudo, às necessidades do mundo do trabalho. Do mesmo modo, o conhecimento científico foi orientado para o mundo do trabalho e essa associação veio dar origem a um conjunto extraordinário das profissões mais importantes de nossa sociedade. O próprio Estado moderno tem entre suas funções mais importantes a de regular as relações de trabalho criando e fazendo valer legislações trabalhistas e amenizando disfunções do mercado de trabalho, por exemplo. Daí a consagração da sociedade moderna como sociedade do trabalho[1].
Todavia se o trabalho tem essa abrangência em nossas vidas, tanto no plano individual quanto no plano social, paradoxalmente não é desse modo que ele é tratado no âmbito do mercado de trabalho das sociedades capitalistas modernas. Pelo menos uma das partes do mercado de trabalho, o contratante - aquele que necessita comprar a força de trabalho – não vê o trabalho com a mesma densidade na vida. Só o vê como um fator de produção, como um item na constituição dos custos, como uma força produtiva tal qual uma máquina ou qualquer outro instrumento. Desse modo, para os empregadores o trabalho é encarado como algo de abrangência bem mais limitada do que para o trabalhador.
Assim, enquanto que para o indivíduo o trabalho é sua vida inteira, para o sistema econômico ele é um item, por certo importante, mas apenas um dos insumos do processo econômico que deve ser administrado com a frieza da racionalidade econômica. Dificilmente essas duas expectativas distintas se harmonizam e, não é por outra razão que a maioria dos conflitos nas sociedades modernas são conflitos de trabalho. Essa contradição estrutural deve estar sempre explicitada e ser compreendida historicamente, pois nem sempre ela existiu, ao menos dessa forma. Sem a revelação dos vários aspectos desse descompasso será difícil encontrar-se soluções para os impasses da sociedade moderna, muitos deles relacionados às questões do trabalho.

Somos uma sociedade de trabalho e não há assunto mais presente no cotidiano das pessoas (embora não o seja tanto na imprensa, nos meios de comunicação) que as relações de trabalho, seus conflitos, seus impasses e seu futuro. Como é normal ocorrer com temas popularizados, tudo o que se diz a respeito do trabalho parece ser bem familiar e de domínio de todos. No entanto, nesse caso, trata-se de um engano essa sensação de simplicidade, pois de fato há uma complexidade oculta além das obviedades de difícil compreensão.
Quando é assim, sem o uso de alguns instrumentos teóricos não vamos a lugar nenhum e são justamente esses instrumentos que podem nos permitir, em relação ao tema trabalho, ordenar as análises contraditórias, as estatísticas controversas, as discussões infindáveis e as soluções contrárias. Afinal o que acontece em nossa sociedade que justifica tantos desentendimentos a respeito do futuro do trabalho?

Para início de conversa devemos salientar que o que denomina-se trabalho no mundo moderno tem uma especificidade que convém ter claro. Não podemos cometer o erro de pensar que o trabalho é algo natural e, que durante toda história humana não teria variado quanto à sua essência. Variou e variou muito! O que era o trabalho no Brasil Colônia? O que é agora? A comparação serve para identificar diferenças profundas que quase não nos permite dar o mesmo nome às duas atividades. O trabalho escravo na época colonial não era emprego o que não nos permite falar em desempregados. Mesmo em nossa sociedade nem todo trabalho realizado pode ser chamado de emprego, e nem toda a ausência de trabalho caracteriza uma condição de desemprego. Quer dizer: emprego não é igual a trabalho e nem desemprego coincide com ausência de trabalho. Emprego é uma relação de trabalho típica do mundo moderno praticamente inexistente em outras épocas históricas. Complicado? Não, o que complica a discussão sobre trabalho é tratar da mesma maneira fenômenos distintos, ocorrência essa frequente que se faz em nome da simplificação de questões importantes. (Continua)

[1] Só para efeito de comparação isso jamais poderia ser dito das sociedades medievais européias em que o trabalho era uma função servil e visto pela nobreza como ato baixo e indigno.

3 comentários:

Anônimo disse...

perfeito :D

Anônimo disse...

perfeito amei obrigado!!!!

Anônimo disse...

Isso é merda