Jaime Oliva
Existe uma crescente complexidade no mundo que a Geografia deve enfrentar ou existe uma nova “moda acadêmica” denominada paradigma da complexidade? É de se desconfiar quando adeptos da primazia da economia política como eixo definitivo que comanda a dinâmica social (são esses, portanto, praticantes e pensantes do paradigma da... simplicidade), sentem-se impelidos a se referir ao paradigma da complexidade (que negam, talvez sem o saber) de forma positiva. Mas, para além das idiossincrasias acadêmicas, é possível bons argumentos sobre a produtividade da abordagem complexa das realidades naturais e sociais. Inclusive, e não poderia deixar de ser, na Geografia. Adotar o paradigma da complexidade implica numa mudança na Geografia? Muitos geógrafos (Milton Santos e Jacques Lévy, por exemplo) já se movimentaram na direção de mudanças epistemológicas profundas, adotando, conforme a linguagem de Edgar Morin (um pensador chave nessa questão e na questão do sistemismo também) o paradigma da complexidade, que se opõe a um paradigma da simplicidade.
Paradigma da simplicidade: aparece nas ciências desde a Renascença e propiciou extraordinários avanços: o progresso científico tal como o conhecemos é ligado a esse método, que é um método de disjunção, de separação do que está ligado para a análise: desmonta-se o motor para alinhar as peças e estudar uma por uma. A isso se soma uma redução: reduz-se a diversidade de fenômenos a um só princípio (a multiplicidade dos funcionamentos que parece ser a desordem pode ser expressa por um só princípio geral). De certo modo, aqui se inclui a denominada economia política. Nas palavras de Edgar Morin: “O paradigma da simplicidade [...] impõe a ordem no universo. A ordem se reduz a uma lei, a um princípio [...] O princípio da simplicidade tanto separa o que está ligado (disjunção), tanto unifica o que é diverso (redução)”.
“Perigos” da simplicidade: a despeito das vantagens e do nível de pregnância nas estruturas da razão e do conhecimento, é possível identificar limites e perigos no paradigma da simplicidade. O risco maior é o da redução da razão a uma dimensão meramente instrumental, a serviço, no limite, do próprio paradigma. O que resultaria num uso degradado da razão que pensa o instrumento (os meios), mas não pensa os fins. Outro risco derivado é o recorte da realidade em esferas de análise totalmente separadas entre elas, cujos vínculos não mais se estabelecem e também não participam da criação cognitiva. Mais uma vez Morin é objetivo: “A visão não complexa das ciências humanas, das ciências sociais, faz pensar que existe uma realidade econômica de um lado, uma realidade psicológica do outro, uma outra realidade demográfica do outro etc.”
Paradigma da complexidade: “A consciência da multidimensionalidade nos conduz a idéia de que toda visão unidimensional, toda visão especializada, parcelar, é pobre. É preciso que ela seja religada às outras dimensões”. (Edgar Morin). Todo elemento do real é um “objeto social total”, não-recortável, multidimensional, em suma é complexo. O que não quer dizer que não posso localizar elementos, objetos e janelas distintas para observar (e/ou construir) a realidade. Um método que não mutila o real e permite compreender os aspectos multidimensionais, funcionais, integrativos que compõem o real; que permite igualmente mostrar que o todo é superior às partes. O quadro das diferentes disciplinas (economia, história, antropologia, geografia, sociologia, etc.) não implica em segmentos do real para cada uma, mas significa que elas analisam a realidade total a partir de um ponto de vista, de um ângulo de ataque. Em Geografia esse ângulo é o espaço, pois a geografia é a ciência da dimensão espacial das sociedades.
Recursos e cuidados: o sistemismo (em particular a reflexão sobre sistemas abertos); os macro-conceitos (a necessidade de pensar por “constelação” de conceitos); evitar o perigo da confusão entre complexidade e “completude”. A abordagem complexa não esgota as realidades. A complexidade não é o todo, não garante a verdade (não se deve cair num novo positivismo), tem limites, mas pode aumentar sua força. É um pensamento novo e em desenvolvimento.
“O pensamento complexo é animado por uma tensão permanente entre a aspiração a um saber não parcelar, não fechado, não redutor, e o reconhecimento do inacabado e da incompletude de todo conhecimento”. (Edgar Morin)
Paradigma da simplicidade: aparece nas ciências desde a Renascença e propiciou extraordinários avanços: o progresso científico tal como o conhecemos é ligado a esse método, que é um método de disjunção, de separação do que está ligado para a análise: desmonta-se o motor para alinhar as peças e estudar uma por uma. A isso se soma uma redução: reduz-se a diversidade de fenômenos a um só princípio (a multiplicidade dos funcionamentos que parece ser a desordem pode ser expressa por um só princípio geral). De certo modo, aqui se inclui a denominada economia política. Nas palavras de Edgar Morin: “O paradigma da simplicidade [...] impõe a ordem no universo. A ordem se reduz a uma lei, a um princípio [...] O princípio da simplicidade tanto separa o que está ligado (disjunção), tanto unifica o que é diverso (redução)”.
“Perigos” da simplicidade: a despeito das vantagens e do nível de pregnância nas estruturas da razão e do conhecimento, é possível identificar limites e perigos no paradigma da simplicidade. O risco maior é o da redução da razão a uma dimensão meramente instrumental, a serviço, no limite, do próprio paradigma. O que resultaria num uso degradado da razão que pensa o instrumento (os meios), mas não pensa os fins. Outro risco derivado é o recorte da realidade em esferas de análise totalmente separadas entre elas, cujos vínculos não mais se estabelecem e também não participam da criação cognitiva. Mais uma vez Morin é objetivo: “A visão não complexa das ciências humanas, das ciências sociais, faz pensar que existe uma realidade econômica de um lado, uma realidade psicológica do outro, uma outra realidade demográfica do outro etc.”
Paradigma da complexidade: “A consciência da multidimensionalidade nos conduz a idéia de que toda visão unidimensional, toda visão especializada, parcelar, é pobre. É preciso que ela seja religada às outras dimensões”. (Edgar Morin). Todo elemento do real é um “objeto social total”, não-recortável, multidimensional, em suma é complexo. O que não quer dizer que não posso localizar elementos, objetos e janelas distintas para observar (e/ou construir) a realidade. Um método que não mutila o real e permite compreender os aspectos multidimensionais, funcionais, integrativos que compõem o real; que permite igualmente mostrar que o todo é superior às partes. O quadro das diferentes disciplinas (economia, história, antropologia, geografia, sociologia, etc.) não implica em segmentos do real para cada uma, mas significa que elas analisam a realidade total a partir de um ponto de vista, de um ângulo de ataque. Em Geografia esse ângulo é o espaço, pois a geografia é a ciência da dimensão espacial das sociedades.
Recursos e cuidados: o sistemismo (em particular a reflexão sobre sistemas abertos); os macro-conceitos (a necessidade de pensar por “constelação” de conceitos); evitar o perigo da confusão entre complexidade e “completude”. A abordagem complexa não esgota as realidades. A complexidade não é o todo, não garante a verdade (não se deve cair num novo positivismo), tem limites, mas pode aumentar sua força. É um pensamento novo e em desenvolvimento.
“O pensamento complexo é animado por uma tensão permanente entre a aspiração a um saber não parcelar, não fechado, não redutor, e o reconhecimento do inacabado e da incompletude de todo conhecimento”. (Edgar Morin)
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