segunda-feira, 1 de setembro de 2008

O que é cidade, o que é urbano, o que é rural, o que é campo... urbanizado

Jaime Oliva

Não é difícil demonstrar a fragilidade teórica e a falta de identidade que permeou a prática da Geografia (esperamos que não mais). Basta tomar com exemplo, a maneira habitual de se definir cidade, rural, campo urbanizado e outras configurações espaciais. Sim, são configurações espaciais (geotipos) que costumam ser interpretadas e definidas a partir de características não espaciais, logo não geográficas. Prevalece o descritivismo econômico e, as vezes, com alguma relutância, um subdescritivismo sociológico. Surge daí a idéia do geotipo, por exemplo, a cidade como sede, como localização, como palco de atividades e de coisas.
Mas se a cidade, e outras configurações urbanas (subúrbios americanos, geotipos periurbanos, campo urbanizado) e o rural são geotipos é lógico que essas ocorrências comportem uma definição, antes de tudo, espacial. Definir em termos espaciais não é descrever o que existe no espaço (o espaço como mero reflexo de outras coisas) e sim mostrar como compõe o ser do fenômeno a dimensão espacial.
Buscar a dimensão espacial dos geotipos traz muitas vantagens e é produtiva (possui valor heurístico). A produtividade vem do quase ineditismo da abordagem espacial em relação a fenômenos sociais e por tudo que ainda pode ser revelado sobre o funcionamento das sociedades. Várias obras de autores geógrafos (Edward Soja, Milton Santos, p. ex.) insistem pela inclusão da dimensão espacial no processo constitutivo das sociedades. Mas isso é um novo (e tardio) entendimento e ainda se resiste muito se admitir o espaço como componente social. Para tanto, se opõem a essas tentativas alguns dislogismos poderosos: positivismo, determinismo, espaço como sujeito etc.
Mas como negar que a cada relação social (unidade elementar que constitui qualquer sociedade) além de mobilizarem-se as linguagens, as motivações econômicas, as psicossociais, as afetivas, a cultura, a política etc é preciso, de modo incontornável, mobilizar-se para a fabricação de um espaço que garanta o contato. O espaço geográfico é uma dimensão da sociedade produzida pelo ser humano sem a qual não há relação social. E assim ele o faz com objetivo de controlar a distância geográfica (“A distância é a questão central do espaço e o espaço é a questão central da Geografia” – Jacques Lévy). Desse modo, não se pode considerar o espaço como algo externo à sociedade com até hoje ainda se faz, com medo de se ser determinista.
Quanto maior o controle democrático das distâncias mais interações sociais. O contrário também faz muito sentido. Ao longo da história foram desenvolvidas formas diversas de controle da distância (mais ou menos eficazes, mais ou menos restritas - em termos de escala geográfica -, mais ou menos abertas etc). Pode-se dizer que vários geotipos foram definidos tendo em vista sua maneira de realizar contatos. Esse fato ajuda a definir os próprios modos de vida. Assim, o mundo rural tradicional pode ser definido como aquele no qual a administração da distância geográfica é de baixa eficiência em vista do todo social. Daí o isolamento geográfico com todas as suas conseqüências (econômicas, sociais, culturais etc). Ao mesmo tempo, no campo modernizado (Ribeirão Preto, áreas do Mato Grosso do Sul etc) aumentou-se significativamente a eficiência do controle da distância (ficou mais perto de tudo) ampliou sua interação com a cidade, com ela se confundiu e assumiu um conteúdo urbano.
E a cidade? Com o enfoque aqui dado ela se constitui numa das três fundamentais formas (cf. Jacques Lévy) básicas de (geograficamente) se realizar contatos. Essas formas não mudam há 5.000 anos: os meios de transportes, os de transmissão de informação e de comunicação e a cidade. Se os dois primeiros buscam correr as distâncias de forma eficiente, o último busca “eliminá-la” até chegar o mais próximo da distância zero e garantir o máximo possível de relações sociais. Assim a cidade se constitui numa fabulosa máquina relacional.

Um comentário:

Anônimo disse...

Contem muita coisa junta e é bastante cansativo de ler pois leio e leio mais não encontro nada cm nada . DESCULPA APENAS MINHA OPNIÃO .