segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Geopolítica: organizar seu sentido

Jaime Oliva

Num mundo que se globaliza cada vez mais, é usado o termo Geopolítica. O que há por trás desse vocábulo, que funde o prefixo geo com a palavra política? Será uma mistura de geografia e política? Duas idéias a respeito do que é Geopolítica podem ser afirmadas de início para orientar a discussão e as atividades que serão propostas.
A Geopolítica não é a política normal, pois essa somente é praticável nos limites territoriais de um país e de uma sociedade. Ela se refere, principalmente, à ação que coloca em contato Estados nacionais territoriais (países) entre si. Por seu intermédio:
► Tanto se constroem acordos econômicos e de cooperação, como se realizam ações estratégicas em busca de vantagens econômicas e territoriais;
► Celebra-se a paz em tratados internacionais, como se faz na guerra.
Tantos são os países (Estados nacionais territoriais) no mundo, quanto são os interesses que não se harmonizam. A lógica de construção de interesses de um país A não se harmoniza necessariamente com os interesses do seu vizinho B. O funcionamento interno de um país, de uma sociedade nacional, não tem como objetivo criar interesses comuns com outros países. Em geral, mal se conseguem criar interesses comuns internamente a um país.
Apesar de serem mundos próprios, com perspectivas únicas, desde há muito tempo os países vêm se abrindo para as relações. Aliás, muitos devem sua própria fundação e existência às relações com outros países. Não será esse o caso do próprio Brasil? Assim, criou-se historicamente uma teia, uma malha de relações internacionais, dotada de alguma ordem, que, por vezes, pode ser vista como um sistema. Eis algumas características elementares dessas relações:
► Sempre se caracterizaram pela desigualdade, com alguns países levando maiores vantagens econômicas, estabelecendo os parâmetros das relações, subordinando os mais frágeis.
► Sempre resultaram de negociações difíceis, pois poucas vezes as relações internacionais encontram apoio das sociedades. Exemplo: se importar bens industriais de outros países sem maiores restrições prejudica os produtores do país, não seria melhor impor restrições, impostos, proibições parciais?
► Os conflitos de interesses econômicos entre países nessa “arena internacional” estiveram entre os motivos principais de várias guerras, inclusive as chamadas guerras mundiais.
► Com o desenvolvimento dos meios de transportes e meios de comunicação, as distâncias geográficas vêm sendo mais bem controladas, aumentando o potencial de relações econômicas, sociais e culturais entre os países. Quer dizer: mais interesses nacionais diferentes entram em contato.
Quer dizer então que estamos aumentando para a humanidade (representada em várias sociedades nacionais diferentes) o risco da ampliação de conflitos? Duas respostas podem ser dadas a essa questão:
1. Não é bem assim, porque entre os diversos e diferentes interesses nacionais, há sempre a vantagem econômica e cultural de estabelecer um relacionamento. Há o interesse em se relacionar. São raros os Estados nacionais e as sociedades que optam pelo isolamento.
2. E há também países poderosos que têm força para influenciar a criação de uma certa ordem nessas relações. Essa força é traduzida numa expressão muita utilizada quando se fala na Geopolítica internacional: potência ou mesmo superpotência. Esse é um dos motivos porque se pode falar em ordem mundial ou, então, velha ordem mundial, nova ordem mundial, “desordem” mundial etc. Alguns chegam a falar em sistema mundial.
A natureza das ações que constroem, que sustentam, que desagregam essa(s) ordem(ns) mundial(ais), ou o sistema mundial, é dada pela Geopolítica.
Existe uma ordem mundial contemporânea possível de ser descrita? Existe e nela os EUA são um país que tem um papel-chave. E sem o entendimento do que é: Geopolítica; Estado nacional; Potência e Superpotência e sem conhecer um pouco da história da construção desse poder dos EUA, essa ordem mundial não será compreensível.

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