quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Origem e evolução das cidades

Jaime Oliva

É sempre bom repassar algumas linhas descritivas e de raciocínio sobre as origens das cidades. Fenômeno geográfico, antes de tudo, multipresente em diversas civilizações que não se comunicavam, as cidades surgem como resultado de uma combinação complexa de condições.
Condições necessárias para a existência das cidades: a presença de excedente agrícola, possível apenas em comunidades sedentárias num certo estágio de desenvolvimento tecnológico foi condição indispensável para a formação de cidades. Não haveria como sustentar alguns membros da comunidade (que por sua vez estariam apartados das funções agrícolas) sem esse excedente, que por sua vez viabiliza-se com avanços nas técnicas de plantio (conhecimento de solos, do lidar com as sementes e mudas, do arado etc) que se desenvolvia paralelamente à domesticação de novas plantas e animais. Mas, não basta o excedente para o surgimento das cidades: é preciso que os lavradores admitam fornecer parte desse excedente a outros; é preciso haver motivos para isso. O que há para trocar? O que esses outros membros da comunidade podem fazer que justifique sua sustentação? Responder isso é interpretar o que estaria na origem das cidades.
As hipóteses sobre as origens das cidades
1. O que o fator segurança constrói: necessidade de proteção contra saques → função de defesa → segmento social dos soldados → divisão do trabalho → estratificação hierárquica → edificações de cidadelas → aglomeração numa área estratégica → ordem que vai se estabilizar → nova classe será dominante e controlará a riqueza da comunidade.
2. O papel operador da cultura: complexização da dimensão cultural → expansão da religiosidade → o enterro simbólico dos mortos → os túmulos, a necrópole → as autoridades eclesiásticas → os templos e a aglomeração em seu entorno das elites e de seus auxiliares.
3. As elites multifuncionais: a combinação de múltiplas funções nas mesmas lideranças; nos primórdios talvez não fosse possível distinguir o chefe militar, do religioso e do governante. É possível que um grupo (elite) e poucas pessoas concentrassem todas essas funções. Assim, cidade será originalmente a aglomeração das elites e dessas funções.

Evolução posterior: apesar da grande variação histórica e dos momentos importantes de oscilação a cidade foi reduto das elites (militares, religiosas, políticas, intelectuais) ao longo de sua história. O nível de conexão com o restante do mundo (rural) era pequeno; nada do que se desenvolvia na cidade se aplicava em outras realidades geográficas, diferentemente dos nossos dias em que o patrimônio de inteligência urbana, assim como seus pressupostos econômicos e culturais (inclusive do passado) são aplicados na vida corrente, em todos os espaços, levando a urbanização para fora das cidades. Somente no início da era moderna as “muralhas” das cidades irão cair e elas serão espaços de atividades econômicas, do ócio das elites para uma industrialização avassaladora, que viabilizará as cidades como espaços de moradia de grandes contingentes populacionais. Agora há o que trocar, pois a cidade é inclusive localidade de produção de alimentos (processamento industrial).

Esses breves comentários preparam esquematicamente um ponto de partida de referência para o olhar histórico e contemporâneo sobre as cidades. Eles têm muito de hipotético sobre os fenômenos e processos que teriam atuado no surgimento nas cidades e que também contribuíram para moldar o eixo evolutivo principal, que afinal se desdobra na cidade contemporânea. De modo algum, esse esquema substitui o conhecimento das diversas situações históricas. Ele serve apenas como uma referência, como um instrumento, para acompanhar o estudo e as análises sobre a história das cidades.

Um comentário:

Rousseau disse...

O espaço da cidade, inicialmente, teve alguma coisa com o absolutismo, com proteção "militar" dos seres humanos ?